01/02/1985

Você Não Precisa Entender (1988)

A PORTAS FECHADAS
Roberto Peixoto, Fê Lemos, Flávio Lemos, Bozzo Barretti, Loro Jones, Dinho

A saudade de você
Me despe a mente
Estamos em branco
E cobertos de pó
Me esgueiro nas sombras
Do que passou
Escombros, bombas
Escombros, bombas
Cadê você?
Cadê você?
Eu grito já sem voz
E a garganta arde
Não há eco
Já é tarde demais

Quero e nego
E corro a qualquer parte
No espaço
Eu me distraio
Com a visão traiçoeira
Da lembrança
Escombros, bombas
Escombros, bombas
Cadê você?
Cadê você?

Meu último desejo
Seu beijo
Seu beijo
Meu último desejo
À luz da lua
Testemunha de um amor
Que com o vento flutua
Sopra-nos a brisa
Lua nua

BLECAUTE
Dinho, Fê Lemos, Flávio Lemos, Loro Jones, Bozzo Barretti

Hoje houve uma
mudança na cidade
Hoje houve uma
mudança na cidade

Mas ninguém liga
Daqui pra frente
É tudo diferente
É olho por olho
E dente por dente

Será que você
Não sente?
Será que você
Não sente?

Não, ninguém liga!
A que ponto chegamos
Não há mais quem me diga
Quem me responda

Tem alguém
Tem alguém aí?

Hoje houve uma
mudança na cidade
Hoje houve uma
mudança na cidade

Mas ninguém liga
Sempre quis ter
O mundo aos meus pés
Mas que adianta
Pra que me serve?

Será que você
Entende?
Será que você
Entende?

Daqui pra frente
Estamos sozinhos
Nós e o mundo
O que vamos fazer?

Tem alguém
Tem alguém aí?

MOVIMENTO
Fê Lemos, Flávio Lemos, Loro Jones, Dinho

Estou em movimento
Movendo até o fim
Movendo até o fim do tempo
Eu começo, não termino
O movimento não acaba

Para todos os fins
Para todos os fins
Para todos os fins
O meio é o movimento

Movendo até o fim do tempo
Apenas um corpo em ação
Imaginando e movendo
O mundo com as mãos

Até o fim do tempo eu movo
E a minha imaginação muda
E eu removo o impedimento
Com a mudança do movimento

Compreensão, compreensão
Compreensão e desprezo
Pouco importam ao movimento

Movendo até o fim do tempo
Apenas um corpo em ação
Imaginando e movendo
O mundo com as mãos

PEDRA NA MÃO
Dinho, Briquet , Bozzo Barretti

Não provoque
os meus instintos primitivos
não, não toque em mim
sem um bom motivo
o seu conselho
é ter paciência
mas já estou cheio
vou reagir
vou conseguir
já sei qual é o meio

Quem planta vento colhe tempestades
quem planta vento colhe tempestades
pedra no chão é topada
pedra na mão é porrada

De uma coisa
eu tenho certeza
se possível me esquivo
senão enfrento
o confronto aberto
se aprende cedo
nunca tema nada
a não ser, a não ser
render-se ao próprio medo

Quem planta vento colhe tempestades
quem planta vento colhe tempestades
pedra no chão é topada
pedra na mão é porrada

FICÇÃO CIENTÍFICA
Renato Russo

Hoje à noite
Flash Gordon
Vai tentar ser
Barbarella
Para ver se aprisiona
O Albert Einstein
Quem criou o elixir
Da longa vida ainda vive
E tenta criar uma nova bomba H
Um eclipse destruiu o sol
Que queria ser Apolo
Sem o mito só o fogo queima o chão

Júlio Verne
Matou Galileu
E Saturno
Os seus filhos
Sangue puro é a essência canibal
Sonhos mortos, sonhos tortos
Sempre vejo minha morte
Tanto faz não existem mais heróis
Criptônima no meu sangue
Clorofórmio no banheiro
E a dança é a mesma não é ficção

Revolução!!
Em selvas tropicais
Raio laser mata índios
Descoberta o novo mundo envelheceu
Como tentar ser selvagem
Se não existe anarquia?
E a dança é a mesma não é ficção?

Muita fome nas estrelas
Muita fome nas estrelas
Muita fome nas estrelas
E aqui também!

LIMITE
Fê Lemos, Dinho, Bozzo Barretti

Olhe em frente
Você gosta do que vê?
Você sempre vê
As coisas do limite
Porque de lá
Se vê melhor
Sinta a cidade respirar
Escute meu coração sufocar
Eu já escutei o suficiente
Pra saber o que ouvir
Já me escondi
Eu me protegi
Mas de nada serviu
Não me deixe sozinho nesse mundo hostil
Não me deixe sozinho

Quero fazer contato
Um acidente na contramão
Quero sentir o impacto
Frente a frente em colisão

Eu não quero quantidade
Eu quero qualidade e fico pensando
Como seria te encontrar um dia
Sem orgulho, vaidade
Quase sem nenhuma proteção
Com a confiança de uma criança
Sem todo esse aparato
Um pouco de simplicidade
Nessa confusão
Um pouco de simplicidade
Nessa confusão

RITA
Roberto Peixoto, Dinho, Bozzo Barretti

A frente um horizonte se estende
Visões de você dançam em minha mente
Ao entardecer uma dança indecente
Cresce em mim o prazer
Sou multidão e estou só... só

Nossos laços não se perdem na distância
A minha ânsia por seu suor
E a sua fragrância o seu suor

REFRÃO: Visões de você
Visões de você dançam em minha mente

O pensamento é alternativa para a sua ausência
A solidão medíocre me força à suplência
Eu derramo palavras para a imensidão do mar
Poderoso e derradeiro
Me sufoca como um nó... nó

Vindo com vento tormentoso o seu cheiro
E eu me perco novamente, tudo novamente
Sou como uma tribo descrente
Tudo novamente, tudo novamente...

Minha ânsia por seu suor
E a sua fragrância o seu suor

Refrão

FOGO
Dinho, Bozzo Barretti

Você é tão acostumada
a sempre ter razão
você é tão articulada
quando fala não pede atenção
o poder de dominar é tentador
eu já não sinto nada
sou todo torpor
é tão certo quanto o calor do fogo
é tão certo quanto o calor do fogo
já não tenho escolha
participo do seu jogo
participo do seu jogo

Não consigo dizer
se é bom ou mau
assim como o ar
me parece vital
onde quer que eu vá
o que quer que eu faça
sem você, não tem graça

Você sempre surpreende
e eu tento entender
você nunca se arrepende
você gosta sente até prazer
mas se você me perguntar
eu digo sim
eu continuo porque a chuva
não cai só sobre mim
vejo os outros
todos estão tentando
é tão certo quanto o calor do fogo
é tão certo quanto o calor do fogo
já não tenho escolha
participo do seu jogo
participo do seu jogo

Não consigo dizer
se é bom ou mau
assim como o ar
me parece vital
onde quer que eu vá
o que quer que eu faça
sem você, não tem graça

O CÉU
Fê Lemos, Flávio Lemos, Bozzo Barretti, Loro Jones, Dinho

Minha cabeça parece explodir
Nunca senti nada assim
Como se tudo pudesse acontecer
Num instante qualquer
A vida nas ruas
Não é mais a mesma
Eu não posso mais correr sem direção
Você não precisa entender
Só precisa me levar

O tempo muda sem aviso
E com ele as coisas que eu preciso

E as surpresas em cada esquina
De repente eu não sou mesmo a fim
Como são lindos todos os anjos
E o que serão essas luzes piscando?
No meio de toda essa fumaça?
Quem será que está me chamando?

Você não precisa entender
Só precisa me levar

O tempo muda sem aviso
E com ele as coisas que eu preciso

/ FICHA TÉCNICA /

1988 - VOCÊ NÃO PRECISA ENTENDER

Gravadora Polygram
Lançamento: Novembro de 1988.
Produzido por Marcelo Sussekind. Gravado nos estúdios da Polygram no Rio de Janeiro em setembro e outubro de 1988. Mixagem digital por Márcio Gana, Marcelo Sussekind e Paulo Henrique.

/ CRÍTICA /

1988 - VOCÊ NÃO PRECISA ENTENDER
H.B - Revista BIZZ - 1988

O que havia sido insinuado no disco anterior, tornou-se agora uma radical constatação: o tecnofunk do Capital é de uma indigência à toda prova, só fazendo dançar possíveis mortos-vivos de uma danceteria de filme de terror. É mais do que sabido que nove entre dez brancos não possuem o feeling necessário para fazer um bom funk isto sem nenhuma conotação racista, muito pelo contrário. O Capital não foge à regra, apesar da boa produção deste terceiro LP onde "destacam-se" os teclados brochantes e os metais mal utilizados, a pobreza das letras até "Ficção Científica, de Renato Russo perdeu sua força no arranjo do grupo as interpretações chorosas e afetadas de Dinho.
É não dá pra entender mesmo.